
Em um ano com aumentos no valor da matéria-prima do café, empreendedores de Porto Alegre buscam estratégias para o aquecer o mercado. As iniciativas têm o objetivo de ampliar o público, fomentar a cultura do produto especial e incentivar um consumo mais consciente da bebida.
Gustavo Leão, mestre de torra e gastrônomo, ministra cursos e produz conteúdo sobre cafés especiais nas redes sociais. Com o objetivo de democratizar conhecimentos sobre o produto, em fevereiro deste ano, ele administrou duas turmas gratuitas no Café Porto Farrô: uma sobre análises sensoriais e outra sobre latte art (desenho no café). As aulas reuniram profissionais da área, clientes de cafeterias e entusiastas da bebida.
— Era para ser um workshop, virou um grupo de apoio — brincou Leão ao final da rodada de apresentação dos participantes.
Entre as histórias, os membros relataram como o “mundo dos cafés especiais” transformou a vida de cada um, tanto no quesito profissional, quanto no pessoal.
Na rua Vicente da Fontoura, as empreendedoras Nouva Devor, Arielle Lima e Luiza Simões, do Café Devora, também apostam em iniciativas como grupos de escrita, pintura e bordado.
Mensalmente, há um treino aberto de latte art, no qual profissionais da área praticam a técnica na cafeteria, enquanto os clientes podem degustar cappuccinos com diferentes artes por R$ 5 — apenas o preço do custo, conforme as empresárias. O próximo encontro está marcado para 12 de junho.
Retomada
O proprietário do Café Porto Farrô, Lucas Eibs, é parceiro de Gustavo na produção de conteúdo e também segue investindo no mercado cafeeiro da capital gaúcha. Ele e o negócio sofreram com a enchente de maio, quando adiou a mudança de endereço para um lugar maior. Hoje, a cafeteria se estabeleceu em um novo local — na Avenida Venâncio Aires — e ele segue com novos projetos no ramo.
Um deles é a participação na retomada do Caféstival — que vai voltar a reunir os entusiastas dos cafés especiais em Porto Alegre. A terceira edição do evento vai acontecer nos dias 25, 26 e 27 de julho, no BarraShoppingSul.
O evento, aberto ao público, terá palestras, workshops, campeonatos e bate-papos para todos os níveis de conhecimento — desde leigos no assunto, até profissionais que trabalham na área.
Após duas edições — a primeira em 2021 e a segunda 2023 — o evento retorna com uma formação e organização diferente. Eibs e Leão se juntam aos idealizadores do projeto, Eurico Albrecht, fundador do Café República; e Guert Schinke Fundador do Baden Torrefação.
Atração de novo público
Os organizadores do Caféstival apostam em alongar o debate sobre o mercado e conectar os gaúchos com entusiastas da bebida de todo o Brasil.
Gustavo pondera que essa é uma oportunidade de "encurtar as distâncias geográficas" com profissionais que são referência no setor. Nesse sentido, o evento, que antes era realizado em apenas um dia e com venda de ingressos, passa a ser aberto ao público e com uma programação maior.
— Isso (maior duração) nos ajudou a atrair o interesse das marcas do segmento, que toparam fazer parte, entrando como patrocinadores, apoiadores ou expositores — destaca o organizador.
Os organizadores esperam que mais de 15 mil pessoas passem pelo evento ao longo dos três dias:
— O que faz com que a gente se aproxime desse "novo" público disposto a experimentar os cafés de melhor qualidade.
Mercado de cafés especiais
Para além do público entusiasta e fiel ao café especial, Guert, do Baden Torrefação, explica que o objetivo deste ano é "ampliar e sair um pouco só da bolha das cafeterias". Eles esperam, também, aproximar o "público de supermercado e do café tradicional, que está mais aberto a entender e experimentar".
Muitos empreendedores veem o cenário atual — de alta no preço do produto — como uma oportunidade para converter novos adeptos. Com isso, o evento pode ser a porta de entrada para que um novo público passe a frequentar cafeterias de Porto Alegre, aquecendo o setor.
— Visto que o aumento atual dos preços dos cafés fez com que a diferença dos cafés de qualidade frente ao tradicional diminuísse, e alguns consumidores estão mais abertos a pagar um pouco mais por um café de maior qualidade — afirma Guert.

Eurico Albrecht, do Café República, destaca que café não é "apenas um produto" para grande parcela dos consumidores e que "uma vez que se experimenta qualidade, o paladar não retrocede".
Profissionais de todo o Brasil
A programação do evento ainda não foi divulgada, mas os idealizadores adiantaram à reportagem que a edição deste ano vai receber grandes nomes do setor.
Entre os convidados estão Isabela Raposeiras, do Coffee Lab de São Paulo, autoridade em café especial; João Mingorance, instrutor de cursos do Lucca Lab, de Curitiba (PR); Thiago Motta, especialista em qualidade da água; Eduardo Olímpio e Tiago Rocha, campeões brasileiros de Latte Art; personalidades locais e nacionais.
Haverá atividades gratuitas e abertas ao público. Outras, mais específicas, serão mediante inscrição. Conforme Lucas Eibs, os participantes também poderão degustar cafés, aprender sobre qualidade técnica e "levar cafés e utensílios para casa".
Rota das Cafeterias
Eibs conta que há outras ações em prol do setor previstas para serem executadas após o fim do evento. Uma delas é a Rota das Cafeterias de Porto Alegre.
Ao longo do Caféstival, o público vai poder adquirir um álbum de figurinhas e preenchê-lo, visitando as cerca de 25 cafeterias participantes da rota. Quem conseguir concluir o álbum vai concorrer a prêmios.
— Eles podem completar esse álbum e todos que completarem vão estar concorrendo a prêmios. Como pacote de café, método de preparo e até máquina de preparo — conta Eibs.
* Produção: Estfany Soares