
Diante da previsão de chuva que supera a média mensal de algumas cidades em apenas um fim de semana, o governo do Estado e os municípios decidiram se antecipar e, na sexta-feira (27), criar gabinetes de crise para minimizar eventuais danos e preservar vidas. Na primeira temporada gaúcha de chuvas após a catástrofe climática de 2024, a iniciativa representa uma mudança de mentalidade na tentativa de evitar a repetição de um trauma que ainda nem foi superado.
Você sabe: a tradição no Brasil e no Estado sempre foi implantar gabinetes de crise depois da tragédia consumada. Foi assim no ano passado, mesmo depois da enchente de 2023.
Desta vez, com níveis de rios já altos, solo encharcado e grande volume de chuva previsto, forças de segurança ficaram de prontidão em Caxias, Santa Cruz do Sul e Lajeado. Os três gabinetes receberam a visita do governador Eduardo Leite.
O senso de urgência das autoridades se reflete no senso de urgência da população, que passa a entender a seriedade dos alertas. Por isso, mobilizações preventivas precisam se tornar a regra, não exceção. Isso mesmo quando a previsão não se confirma e aí é preciso também uma mudança cultural na população para entender que não se trata de alarmismo.
A mudança de postura também se justifica pelo que está ocorrendo diante de nossos olhos. A enchente de 2024 ocorreu em um contexto de Super El Niño, uma versão intensificada de um fenômeno que já multiplica o volume de chuva no Estado. Um caso isolado, muitos poderiam dizer. Só que, um ano depois, o Guaíba — para ficar em um exemplo — voltou a bater a cota de inundação sem que haja sequer uma edição "light" de El Niño. Ou seja, o clima já mudou, mudou rápido e não vai voltar a ser o que era. É preciso, então, mudar as estratégias aqui embaixo.
Por falar nisso
Os brasileiros tem demonstrado curiosidade — e até ironizado — as paralisações em jogos da Copa do Mundo de Clubes por alertas de tempestades por autoridades dos Estados Unidos. Trata-se de uma medida preventiva e prevista em lei em algumas regiões do país. Parece exagerado porque ainda falta muito para a prevenção entrar na cultura dos brasileiros.
O Brasil é o país que mais registra queda de raios anualmente e em todos os anos há mortes por conta disso, mas ainda encaramos como fatalidade. O meio-oeste americano é o local do mundo mais propenso a tornados. O segundo, é o sul do Brasil, mas precisou da enchente de 2024 para reforçarmos as estruturas de previsão do tempo e alertas de curto prazo, ações ainda em curso.