
O jornalista Paulo Egídio colabora com a colunista Rosane de Oliveira, titular deste espaço.
Dois anos depois de a Assembleia Legislativa aprovar a reforma que reajustou as contribuições e a coparticipação em consultas e exames, o IPE Saúde ainda enfrenta cobranças de usuários para melhorar os atendimentos. Com orçamento de cerca de R$ 4 bilhões ao ano, o instituto presta assistência a 860 mil servidores públicos do Rio Grande do Sul, dos quais a maioria já está aposentada, e a seus dependentes.
A defasagem afeta principalmente segurados do Interior, que relatam dificuldades no acesso a consultas, exames e procedimentos médicos. Em Porto Alegre, usuários sofrem com a restrição de atendimentos em razão da sobrecarga geral da rede de saúde.
Diante do quadro, a reivindicação por melhoria nos atendimentos foi incluída como mote dos protestos do funcionalismo estadual, ao lado da pedida por reajuste salarial. Após manifestação em frente à sede do instituto em Porto Alegre, no dia 16 de maio, o Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul (Cpers) e a Frente dos Servidores Públicos (FSP) organizam agora uma série de atos regionais em Santo Ângelo, Passo Fundo, Santa Maria e Pelotas, reclamando do que chamam de "sucateamento".
O presidente do IPE Saúde, Paulo Afonso Oppermann, reconhece que há "rarefação" de médicos credenciados em algumas regiões do Estado, como a Campanha e Fronteira. Por outro lado, afirma que o instituto está prestes a implementar um novo programa de credenciamento de profissionais, que levará em conta critérios demográficos.
— Serão lançados editais públicos para levar médicos para onde temos agruras como a falta de profissionais ou problemas de cobranças indevidas — relata Oppermann.
Em paralelo, o instituto trabalha em um projeto de longo prazo para o recredenciamento dos hospitais conveniados, também por meio de editais.
Acordos com hospitais
A principal causa de restrições a usuários do IPE Saúde nos hospitais é a inconformidade de algumas instituições com as novas tabelas de remuneração, editadas no ano passado. Desde então, o assunto é discutido judicialmente.
Em gesto recente, o IPE disponibilizou R$ 100 milhões de seu orçamento para tentar fazer um acordo com os 18 hospitais litigantes, no intuito de encerrar a contenda, e as negociações progrediram.
Ainda está em discussão um segundo acordo para ampliar a remuneração de hospitais que oferecem serviços específicos, e que, por isso, têm custo maior de operações. Um exemplo é a Santa Casa da Capital, centro de referência em transplantes no Brasil.
O presidente do IPE Saúde diz que os casos de falha em atendimentos não são "percentualmente significativos", mas pede que sejam registrados pelos usuários na ouvidoria da instituição:
— Estamos analisando as queixas específicas e tomando providências quando identificamos uma conduta fora do esperado — garante Oppermann.
Aliás
Se ainda não se refletiu na melhoria dos atendimentos, a reforma do IPE Saúde conseguiu equilibrar o caixa da instituição, que chegou a ter uma dívida superior a R$ 600 milhões e um déficit corrente de R$ 36 milhões mensais em seu pior momento.