
É um clichê dizer que "a saúde na Grande Porto Alegre está na UTI", figura de linguagem usada pelos prefeitos em sucessivas reuniões que vão do nada a lugar nenhum. Ao longo da semana, a competente repórter Lisielle Zanchettin circulou pelos hospitais das cinco cidades mais problemáticas da Região Metropolitana e relatou na Rádio Gaúcha e em GZH situações que indicam risco evidente de colapso.
O que Lisielle mostrou foram dramas de pacientes que esperam atendimento e, também, daqueles que conseguiram o leito de internação de convivem com carências de toda ordem. Da falta de lençóis limpos, que precisam ser levados de casa, no Hospital Nossa Senhora das Graças, em Canoas, à inexistência de UTI e de tomógrafo em Alvorada.
— O cenário nas cinco cidades é muito semelhante, mas só compreendi a gravidade ao estar em frente aos hospitais. Em Alvorada, uma mulher chorava de dor, com dificuldades para caminhar por causa de um problema na coluna. Ela não se enquadra nos critérios de prioridade (o hospital só está recebendo casos com risco de morte). É feita uma escolha de quem será atendido, diante da superlotação. Histórias como essa se repetem. É o reflexo da sobrecarga de todo o sistema de saúde — conta Lisielle.
A carência de serviços especializados de ortopedia e traumatologia é um drama recorrente no Rio Grande do Sul. Quem tem problemas de hérnia de disco, como a mulher que chorava de dor em Alvorada, não pode passar quatro ou cinco anos dopada com analgésicos, enquanto espera por um procedimento. O programa Mais Especialidades, anunciado ainda na gestão de Nísia Trindade e cuja demora teria sido uma das causas de sua demissão, ainda não decolou com Alexandre Padilha.
Nesta sexta-feira (23), houve mais uma reunião dos prefeitos da Granpal com a Secretaria da Saúde, mas não se vislumbram no horizonte sinais de que uma solução rápida esteja a caminho. O governo estadual anunciou que vai solicitar ao governo federal o repasse de R$ 26,1 milhões para abertura, por três meses, de 405 leitos para pacientes adultos com síndrome respiratória aguda grave ou que necessitem de suporte ventilatório pulmonar. Os leitos reforçariam o atendimento durante o inverno, evitando a sobrecarga nos serviços de emergência, com filas de espera e elevado risco à população.
Pedir não significa que o Ministério da Saúde liberará o dinheiro num estalar de dados, mesmo que o Estado tenha decretado situação de emergência na saúde. Sempre há um tempo entre o pedido e a liberação, por conta da burocracia. Convém lembrar que a temporada de frio está recém começando e que as emergências estão superlotadas de adultos e crianças com sintomas gripais.
Aqui entra uma preocupação que já foi tema desta coluna domingo passado: o baixo índice de pessoas vacinadas. De acordo com a última atualização da Secretaria da Saúde, somente 35,5% da população do Rio Grande do Sul fez a vacina contra a gripe. Entre os idosos, que integram o grupo mais vulnerável, só 39,75% se vacinaram. Crianças, só 21,42%, e gestantes, 19,39%. A vacina está disponível nos postos de saúde, é gratuita e, comprovadamente, evita a gripe ou faz com que seja mais fraca.
Arita também prometeu encaminhar ao governo federal o pedido de cumprimento de legislação de reajuste da tabela SUS. Essa demanda é antiga e não tem encontrado eco no Ministério da Saúde.
Outro caminho para socorrer os hospitais seria o aumento dos recursos estaduais, com a aplicação dos 12% previstos na Constituição. O Rio Grande do Sul só chega a esses 12% usando artifícios como contabilizar o que paga como contribuição patronal ao IPE Saúde e até mesmo gastos previdenciários. Um acordo está sendo costurado com o Ministério Público para pagar esses valores parcelados. Ou seja, não é dinheiro para a semana que vem.