
Em reação à entrada dos Estados Unidos na guerra, o parlamento do Irã aprovou, no domingo (22), o fechamento do Estreito de Ormuz. Em tese, ainda precisaria da chancela do Conselho de Segurança do país e de seu "líder supremo", o aiatolá Khamenei. Mas como até a "maior democracia do Ocidente" já adotou ações bélicas sem consultar seu Congresso, não se sabe o que esperar da teocracia iraniana. Agora, a passagem por corredores de apenas três quilômetros de largura é a preocupação maior da economia global.
O que é o Estreito de Ormuz?
Localizado entre o Irã, ao norte, e Omã, ao sul, liga o Golfo Pérsico ao Golfo de Omã. É uma passagem que, em sua parte mais afunilada, tem 39 quilômetros de largura. Não parece tão pouco, mas para a passagem de gigantes navios petroleiros, que exigem grande profundidade, tem só duas faixas de navegação, com três quilômetros de largura – uma para cada sentido da navegação.
Já foi fechado antes?
Não, nunca foi bloqueado 100%, nem nas épocas de conflito disseminado na região. No entanto, durante a guerra entre Irã e Iraque, na década de 1980, que teve centenas de milhares de mortes, os dois países atacaram navios comerciais, no que ficou conhecido como Tanker War, ou Guerra dos Petroleiros.
Que tipo de precedente existe?
Entre o final de 2023 e o início de 2024, o grupo Houthi, que controla boa parte do território do Iêmen e tem apoio do Irã, passaram a atacar navios que trafegavam no Mar Vermelho, causando aumento do frete e busca por rotas alternativas que elevaram o custo do transporte marítimo.
Por que Irã tem o controle dessa passagem estratégica?
Por que boa parte do estreito fica na costa do país. O Irã controla a parte norte do estreito, enquanto Omã e os Emirados Árabes são responsáveis pela parte sul, pelo mesmo motivo. As faixas por onde passam os navios comerciais são consideradas águas internacionais, segundo o direito marítimo da ONU. No papel, o Irã não poderia bloquear a passagem. Na prática, como os corredores de navegação são estreitos, deixam as embarcações na mira de de mísseis e drones.
Para onde vão as cargas que podem ser interrompidas?
A Administração de Informação de Energia (EIA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos estima que 82% do tráfego de petróleo e gás que passa por Ormuz tem a Ásia como destino. Isso significa que China, Índia, Japão e Coreia do Sul, que juntos somam 70% do total, seriam os mais afetados.
E de onde vem essas cargas de petróleo e gás?
São de países como Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos — países dos quais o Irã vinha tentando se aproximar nos últimos anos.
O próprio Irã não seria afetado?
Sim, parte das cargas do Irã passam por Ormuz, mas é importante lembrar que a produção de petróleo e gás no Irã caiu muito nos últimos anos, devido aos embargos dos EUA.
Não há alternativa?
Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos construíram dutos para transportar parte de seu petróleo para exportação por rotas que evitem o estreito, mas a EIA estima que o volume capaz de contornar um eventual bloqueio seria de 2,6 milhões ao dia, pouco mais de 10% da quantia total que passar por Ormuz, ao redor de 20 milhões ao dia.