
Faz uma semana que a participação do médico Drauzio Varella no Festival Fronteiras martela na minha cabeça. Assisti a uma de suas falas e foi como ser puxada pela orelha algumas vezes. Drauzio dizia que nem mesmo mães de crianças pequenas, grupo em que me incluo, têm desculpa para não cuidar de si mesmas, física e mentalmente. Com lugar de fala, como dizem agora, sei o quanto não nos priorizamos. Seja pelos filhos, pela família, pelo trabalho, estudo ou amigos. Sempre temos uma desculpa que nos faz adiar. Que me faz adiar. Preciso aqui me responsabilizar, assim como você, caro leitor. Drauzio dizia que se meia hora de exercício não cabe no seu dia, seu dia está errado. Ele tem razão. Parece simples. Talvez seja, mas também sabemos que há rotinas em que não se encaixa mesmo, ou momentos que nos confundem ou impedem de as coisas acontecerem. Vocês com certeza notaram que já entrei de novo no campo das desculpas.
Drauzio também contou que corre há 30 anos e que nenhuma vez, nenhuminha, saiu da cama com vontade de correr, mas que em todas voltou pra casa com o sentimento que a endorfina proporciona. Uma semana depois do Festival Fronteiras, Porto Alegre sedia sua 40ª edição da Maratona Internacional. Dois grandes eventos em uma capital que é referência em muitos temas. Assuntos que se conectam e que fazem parte da nossa vida. Ou uma oportunidade de começar a observar o esporte como meio de melhorar a saúde física e mental e até a convivência entre as pessoas e delas com a cidade.
Não quer dizer que todos correrão maratonas. Aliás, somente 1% da população mundial já completou os 42.195 metros ao menos uma vez na vida. Serão 25 mil pessoas correndo, mais outras milhares trabalhando no entorno do evento, nos hotéis, restaurantes, shoppings e em tudo que um acontecimento como esse proporciona a uma cidade e ao estado.
Em 2024 tive a oportunidade de viver alguns minutos como espectadora da maratona de Boston, uma das mais importantes e longevas do mundo. Na cidade em que David Coimbra viveu com a família durante o tratamento contra o câncer, vi o que é o espírito de um local acolhedor com seus eventos. Pessoas nas ruas, sinos, cartazes, gritaria, simpatia dos moradores. Os maratonistas já sabem que a cada quilômetro encontrarão sorrisos e palavras de apoio.
Se para muitos motoristas o caminho vai mudar um pouco por causa da maratona, isso não pode ser problema. Temos que pensar no quanto o Rio Grande do Sul ganha com isso. O mesmo vale para o Festival Fronteiras, que aproximou o morador com o Centro Histórico e seus lindos prédios.
Veremos, neste domingo (8), limites sendo superados e pessoas lutando consigo mesmas pelos seus objetivos. Isso precisa ser celebrado. A ocupação da cidade por todos nós precisa ser motivo de festa.