A onda de calor precoce que afeta milhões de europeus com temperaturas extremas na Espanha, Portugal e França se desloca para o leste nesta quarta-feira(2) e chegará à Alemanha, com temperaturas previstas de 38°C em Berlim.
As temperaturas podem chegar a 40°C em alguns locais, como Mannheim, no sudoeste da Alemanha, segundo o serviço meteorológico nacional.
"É quase como uma sauna", diz Nora, de 18 anos, que vende morangos em um quiosque em uma rua comercial da capital alemã. "Trouxe dois litros de água fresca e estou tentando beber bastante", afirma.
Essas ondas de calor são "preocupantes", mas "o pior é que ninguém na política está interessado, ou não está interessado o suficiente", lamenta Marga, mãe de dois filhos em Frankfurt.
Na França, as temperaturas ultrapassaram 40°C no sul na terça-feira e 38°C em Paris, onde um alerta vermelho foi acionado pela primeira vez em cinco anos. Apenas quatro regiões no centro do país estarão abaixo desse nível máximo de alerta nesta quarta-feira.
Na Bélgica, as temperaturas ultrapassaram 35°C, e o Atomium, o famoso monumento de aço inoxidável em Bruxelas, estará fechado na tarde desta quarta-feira.
Os Países Baixos tiveram sua primeira "noite tropical" do ano, com temperaturas acima de 20°C (68°F).
- "De primeira necessidade" -
Embora as ondas de calor do verão não sejam novidade, após décadas de combustão de carvão, petróleo e gás, responsáveis pelo aquecimento global, ocorrem cada vez mais cedo ou mais tarde no ano, fora das férias escolares no hemisfério norte, de junho a setembro.
A França enfrentou seu segundo junho mais quente "desde que os registros começaram em 1900", disse a ministra da Transição Ecológica, Agnès Pannier-Runacher, nesta quarta-feira.
"Mais de 300 pessoas foram atendidas pelos bombeiros e duas morreram em decorrência de doenças relacionadas ao calor", disse, embora fontes próximas a ela tenham declarado mais tarde que "não houve confirmação oficial".
A Espanha também registrou seu junho mais quente, com uma média de 23,6°C, ainda mais alta do que a esperada em julho e agosto.
Portugal também quebrou um recorde em junho, atingindo 46,6°C no domingo em Mora, a cerca de 100 km de Lisboa.
Diante desse calor escaldante, a população faz o que pode para resistir.
"Como aguento? Não saio de casa. É preciso abrir as janelas cedo e por pouco tempo, no máximo até às 9h, fechar as persianas e trabalhar remotamente com o ar-condicionado ligado", explica Manuel Méndez, jornalista de 46 anos de Madri.
"Ligo o ar-condicionado; é caro, mas o considero como uma maneira de viver melhor. É como se aquecer no inverno", acrescenta. "Algo que era um acessório há 10 anos agora é de primeira necessidade".
- "Pobreza energética" -
Mas nem todas as famílias podem arcar com essa despesa.
"Não ligamos o ar-condicionado porque as famílias de classe média não têm condições. A pobreza energética afeta a todos nós, que precisam economizar para sobreviver", lamenta Julia Muñoz, gerente de qualidade de 60 anos.
As temperaturas devem permanecer altas na Espanha nesta quarta-feira, embora chuvas e tempestades possam começar em algumas áreas, especialmente no norte e nordeste, principalmente na Catalunha, Aragão e nos Pireneus.
Na província de Lérida, na Catalunha, os bombeiros anunciaram na terça-feira a descoberta dos corpos de duas pessoas após um incêndio.
Horas antes, também na Catalunha, a polícia havia relatado a morte de um menino de dois anos após ser deixado por várias horas em um carro estacionado ao sol.
A avaliação do impacto da onda de calor levará meses. As ondas de calor de 2003 e 2022 causaram a morte de aproximadamente 70.000 e 61.000 pessoas, respectivamente, principalmente entre idosos.
Segundo cientistas, eventos climáticos extremos, como ondas de calor e tempestades, estão cada vez mais intensos devido à mudança climática.
* AFP