
A regra eleitoral que define a eleição para presidente da CBF, com peso três para os votos dos presidentes de federações estaduais, dificilmente será modificada pela entidade. Fontes consultadas por Zero Hora deixam claro que não existe intenção de alteração neste momento.
Pelo estatuto da confederação, o colégio eleitoral é formado por 27 federações estaduais (voto com peso três cada uma), 20 clubes da Série A (voto com peso dois) e 20 clubes da Série B (voto com peso um).
Além disso, é preciso a assinatura de oito federações e cinco clubes para a inscrição de uma chapa. Samir Xaud, que será eleito neste domingo (25), teve o apoio de 25 federações. Por isso Reinaldo Carneiro Bastos sequer conseguiu se inscrever para a disputa.
— Hoje temos 40 clubes votando, só que no futebol brasileiro você tem mais de 700 clubes. Só no Pará eu tenho 180 filiados. Então o meu voto, como presidente da federação paraense representa muitos clubes e também o futebol amador. Eu acho que é o um debate interessante, mas é muito importante entender a origem disso. O presidente de federação representa o seu estado e muitos clubes — explica Ricardo Gluck Paul, presidente da federação paraense de futebol e que será eleito neste domingo vice-presidente da CBF na chapa de Samir Xaud.
— Quem tem direito a voto na CBF historicamente são as federações, porque quem é filiado à CBF é a federação. Os clubes são filiados às federações. Houve uma alteração para a participação dos clubes no processo eleitoral. A lei fala que a diferença pode ser até de seis vezes o peso entre o maior voto e o menor voto. As federações representam mais de 700 clubes no país. Equipes das Séries C e D, além daquelas que não participam do cenário nacional. Então é legal e plausível o peso do voto das federações — completa Luciano Hocsman, presidente da Federação Gaúcha de Futebol.
As pessoas não podem perder a esperança, mas esse caminho não é simples. Ele exige algo que o futebol não tem, que é uma mobilização.
ANDREI KAMPF
Especialista em direito na comunicação e esporte
Mudança é difícil
Para especialistas no direito desportivo, a possibilidade de mudança no atual sistema eleitoral só será possível se houver um amplo debate, e com concordância da CBF e federações:
— A CBF é uma uma entidade privada e tem autonomia constitucionalmente garantida, ou seja, não cabe aqui cogitar uma intervenção por alguma autoridade pública. O que teria que acontecer é uma composição política. E muitas vezes a pressão da opinião pública pode ser um fator importante — comenta Fernando Barbalho, advogado com extensa experiência em direito administrativo e esportivo.
— As pessoas não podem perder a esperança, mas esse caminho não é simples. Ele exige algo que o futebol não tem, que é uma mobilização, uma força coletiva, através de mecanismos de pressão sobre este sistema. E os clubes têm um papel fundamental. Eles precisam exercer mecanismos legítimos de pressão para passar a atuar de maneira mais forte dentro desta organização privada interna — enfatiza Andrei Kampf, especialista em direito na comunicação e esporte.
Clubes estão mobilizados
E esta pressão já começou. Um manifesto assinado por 21 clubes pede mudanças na CBF. Entre elas o final do peso três para o voto das federações estaduais.
— O torcedor não torce para federação, o torcedor torce para clubes. Os clubes que movimentam a indústria do futebol e, portanto, é necessário que isso seja revisto. No sábado, um dia antes da eleição, tem assembleia geral só com as federações. Eles podem perfeitamente mudar o estatuto e o peso dos votos. Mas é difícil acreditar nisso. Então acredito que será um processo longo — ressalta o Alessandro Barcellos, presidente do Inter.
Barcellos será um dos dirigentes que não votarão em Samir Xaud na eleição de domingo na sede da CBF.